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Um pouco de história...

O Contato Improvisação foi proposto primeiramente por Steve Paxton (foto), dançarino e coreógrafo americano, em 1972. Ele estava interessado em descobrir como a improvisação em dança poderia facilitar a interação entre os corpos, suas reações físicas, e em como proporcionar a participação igualitária das pessoas em um grupo, sem empregar arbitrariamente hierarquias sociais. Estava também empenhado em desenvolver um novo tipo de organização social para a dança, não ditatorial, não excludente, e em uma estrutura para a improvisação que não levasse ao isolamento de nenhum participante.



Paxton chamou a dança de contact improvisation, porque descrevia exatamente o que eles estavam fazendo. Ele buscava explorar os aspectos físicos no trabalho como valor neutro: o que era possível fazer, e não o que pareceria esteticamente. De acordo com Paxton, “a estética ideal do Contato Improvisação é um corpo totalmente integrado”.


Steve Paxton nasceu e foi criado no Arizona, e trouxe muitas linhas de treinamento do movimento em sua dança. Foi atleta, ginasta, artista marcial e um dançarino moderno. Ele foi a Nova Iorque para estudar, e dançou com a companhia de dança moderna de José Limón, por um tempo, e com outras de dança moderna. No início de 1960, Steve dançou na companhia de Merce Cunningham e participou das transformações da dança nos anos 60.

Contato Improvisação Brasil, Contact Improvisation Brazil, CI Brasil

 

Steve Paxton

Yvonne Rainer, uma artista importante nessa revolução de dança, fez um projeto que evoluiu para o Grand Union grupo de dança-teatro- improvisação que incluía Steve Paxton, Gordon David, Trisha Brown, Barbara Dilley, Douglas Dunn, Nancy Green e outros. Eles pesquisavam performance espontânea. Os membros eram bailarinos em várias companhias, mas, com o Grand Union, não tinham nenhum plano, nenhuma coreografia em conjunto. Eles usaram tudo e qualquer coisa à mão: adereços, iluminação, música, texto, figurino, o movimento etc. para construir seu teatro de dança improvisada.

No verão de 1972, o Grand Union foi convidado a Oberlin College para uma residência. Cada membro da companhia ministrou aulas técnicas na parte da manhã e de performance no período da tarde. Nesse contexto, foi criada a peça que marca o início do Contato Improvisação: Magnesium.

 

Contato Improvisação Brasil, Contact Improvisation Brazil, CI Brasil

Magnesium, 1972

A classe de performance de Paxton, na parte da tarde, era só para homens. Eles usaram um grande e velho tatame, onde se jogavam, caíam e também praticavam aikido, tai chi, yoga e meditação. Ele tinha ido para o Japão com Merce Cunnigham, e lá, assim como em Nova Iorque, tinham sido apresentados a práticas orientais. Isso tudo foi entrando em sua forma de dança.
Paxton estava trabalhando em um solo, cuja premissa era: posso me jogar para fora da terra, e não importa o que acontece, ou seja, deixar o corpo cair e resolver. “Essa foi a minha pergunta, a minha pesquisa. Eu tinha percebido que era vagamente possível, e eu queria ver se era possível ensinar o que eu tinha em mãos” (PAXTON, 2009, p.74).

 



No vídeo Fall after Newton (1983), Steve relata que estava treinando os homens nos extremos de orientação e desorientação, parando para experimentar a pequena dança, e, em seguida, praticar quedas grandes e pequenas, associadas às roladas do aikido.


Sua ideia era ensinar jovens rapazes esmagando-os juntos, do jeito que se esmagam pequenas partículas na pesquisa atômica. Havia cerca de uma dúzia de pessoas, e ele as fez saltar no ar e cair em montes. Daí veio a peça chamada Magnesium.

Paxton passou a ensinar no Bennington College, em Vermont, na primavera de 1972, onde continuou a desenvolver suas ideias de Magnésio. A exploração dessa abordagem era mais sobre como convidar o corpo a condições que criam uma nova maneira de se mover: uma nova relação do corpo com a gravidade, o chão, o si mesmo, os órgãos etc. E as pessoas.

Ele conseguiu uma pequena bolsa e decidiu reunir um grupo em Nova Iorque, em junho de 1972, para fazer um projeto de performance. Ele convidou alguns jovens bailarinos, que havia conhecido, do Oberlin College (Curt Siddall e Nancy Smith), da Universidade de Rochester (Danny Lepkoff, David Woodberry e outros) e do Bennington College (Nita Little, Laura Chapman e outros), bem como alguns de seus colegas em Nova Iorque.



 

Fall After Newton, 1983

Trabalharam durante uma semana em um estúdio em Nova Iorque. Durante todo o dia, praticavam por um longo tempo, como a pequena dança, em que Steve, sugeria diferentes imagens do esqueleto, o fluxo de energia, a expansão dos pulmões, identificar sensações de pequeno suporte. Praticavam um monte de técnicas de rolamento para frente, para trás, aikido, inventaram roladas, a fim de ser confortável cair, rolando em diferentes direções.

Outra prática foi: uma pessoa fica em pé em direção à traseira do tatame e, um a cada vez, corre e joga-se a essa pessoa, que tentaria pegá-lo e, de alguma forma, controlar o peso.

Nos anos seguintes, sempre que Steve teve uma performance, era o
Contato Improvisação que ele mostrava. Três anos depois, em 1975, Steve reuniu uma turnê no noroeste dos EUA. O grupo era: Nancy Smith, Nita Little e Curt Siddall, formando uma companhia chamada ReUnion (Reunião), que todos os anos, por vários anos, juntou-se para visitar a Costa Oeste, ministrando aulas e dando performances.

Nessa primeira turnê, em 1975, eles começaram a ouvir falar de pessoas que tinham visto anteriormente, e agora estavam praticando Contato Improvisação. Também ouviram falar de pessoas que se feriram. Alguns ferimentos graves. No grupo, apareciam hematomas, mas nada mais grave do que isso. A questão da segurança realmente os preocupava. Houve alguma teorização, consideraram que o treinamento – especialmente a
pequena dança, que era uma sutil detecção do trabalho – ajudava a manter o equilíbrio e a segurança, nas interações maiores e mais perigosas. Mas as pessoas que acabavam de ver uma performance tentariam o grande e o rápido, sem essa outra formação.

Então, o grupo pensou que, a fim de manter a prática do Contato Improvisação segura, deveria se assumir uma autoria pelo trabalho, de modo que se tivesse de treinar com aquele grupo. Chegaram a escrever os papéis, que quase foram assinados, mas se decidiu não o fazer. Não queriam se tornar controladores, policiais do contato improvisação.

Contato Improvisação Brasil, Contact Improvisation Brazil, CI Brasil

Experimentações do princípio do CI no Natural Dance Studio,

em Oakland, circa 1975

Daniel Lepkoff, Lisa Nelson, Steve Paxton, 

Nancy Stark-Smith, Christie Svane - 1980

Contato Improvisação Brasil, Contact Improvisation Brazil, CI Brasil

Havia também o sentido de que isso é emocionante para as pessoas. Elas vão fazer isso de qualquer maneira, então, em vez de limitá-las, criaram um boletim informativo, onde todas as pessoas envolvidas poderiam escrever sobre o que estavam fazendo, convidando as pessoas, em vez de expulsá-las.

Assim se originou um periódico, o Contact quarterly, em 1975, para encorajar as pessoas a ficar em contato e comunicar sobre como estão trabalhando. Lisa Nelson juntou-se a Nancy Smith, como coeditoras dele, no final dos anos 70. Elas editam e produzem o jornal juntas desde então, tendo uma equipe colaborando.

​Da primeira turnê do ReUnion em diante, o número de contateiros cresceu consideravelmente. Em mais de 40 anos, muitas pessoas têm contribuído significativamente para o desenvolvimento dessa forma de dança, como praticantes, professores e artistas.


Essa prática foi amplamente difundida, a partir dos anos 1980, e formou mundialmente uma “comunidade de contato”. É interessante que, nessa comunidade, a troca de conhecimento tenha tido lugar na revista Contact quarterly e em conferências periódicas. Isso inaugura um processo democrático de difusão e elaboração teórica para a dança, sem precedentes. Nesse sentido, as jams também participam desse processo democrático no fazer dança.

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